ACIL - Associação Comercial e Industrial de Livramento
   
  100 anos de comércio
   
  Um resumo histórico da ACIL, compilado do livro acima denominado, de autoria do historiador santanense Ivo Caggiani.

  Alfândega, a grande conquista
   
  Obtido o alfandegamento da Mesa de Rendas, restava ainda continuar a campanha para a criação da Alfândega, a grande meta, o maior motivo da existência da Praça do Comércio do Livramento. Graças, porém, a uma circunstância ocasional, um eminente santanense, Rivadávia da Cunha Corrêa, assumira o Ministério da Fazenda. A sua alta compreensão da magnitude do que reclamava sua terra natal e o seu amor por Sant'Ana do Livramento, levaram-no a criar a Alfândega.

A 1º de outubro de 1900, a cidade, que de véspera vestira as suas melhores galas, amanheceu mobilizada integralmente, para festejar o magno acontecimento.

Éramos, entretanto, no equinócio do verão um violento temporal açoitou a cidade, logo as primeiras horas daquele dia. Isso não obstante, a cerimônia inaugural verificou-se na hora aprazada. E as grandes festividades: corridas de"cavalhadas", "danças de jardineiras", "fogos de artifício", passeata cívica, bailes de gala e populares, prosseguiram nos dias subseqüêntes, atestando o imenso júbilo da cidade ante a grande e porfiliada conquista.

Os jornais da época noticiaram que de Montevidéu vieram três vagõescarregados de fogos artificiais para serem queimados em regosijo pela instalação da alfândega, doados pelo comércio da capital uruguaia. Também, enviados e pelo comércio, vieram dois hábeis profissionais para montarem o espetáculo pirotécnico.

O registro histórico fundamental da Alfândega do Livramento, resume-se no seguinte documento:

Termos de instalação da Alfândega da Cidade de Sant'Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, criada de conformidade com a Lei número quatrocentos e dezessete de novembro de mil oitocentos e noventa e seis.

Ao primeiro dia do mês de outubro de mil novecentos, nesta cidade de Sant'Ana do Livramento, no Rio Grande do Sul, no prédio número dois da rua dos Andradas, esquina da rua Tamandaré, escolhido para o funcionamento da Alfândega desta cidade, presente o cidadão inspetor em Comissão ADOLFO REDOLIN FAYET, compareceram os primeiros escriturários LAURO BRANSFORD e MARCIANO ILHA MOREIRA, e os segundos escriturários TELMO AZAMBUJA CIDADE e JULIO BICA DE FREITAS, nomeados para dita Alfândega, e depois de expedir-se portarias designando o primeiro escriturário Marciano Ilha Moreira, para servir o cargo de Tesoureiro nomeado, e o guarda Antônio Francisco Coelho de Morais, para servir provisoriamente de Porteiro desta Repartição por falta de pessoal e não ter-se apresentado o Porteiro nomeado; cientificou-se aos presentes que, se achando por essa forma preenchidos convenientemente os diferentes serviços que competema dita Alfândega, estava a mesma em condições de funcionar e assim a declarava instalada para todos os efeitos legais, bem como em conseqüência deste ato, declarava extinta a MESA DE RENDAS FEDERAL, desta mesma cidade, tudo de acordo com o recomendado pelo cidadão DOUTOR LUIS VÓSSIO BRÍGIDO, Delegado Fiscal do Tesouro Federal neste Estado, em portaria número dois de onze de setembro findo. E para constar, eu TELMO AZAMBUJA CIDADE, segundo escriturário desta repartição, na qualidade de Secretário, lavrei o presente termo que assinam, o cidadão inspetor em Comissão e o pessoal presente e nomeado. (Assinados) Adolfo Fredolin Fayet, Lauro Bransford, Marciano Ilha Moreira, Julio Bica de Freitas, Telmo Azambuja Cidade, Antônio F. Coelho de Morais".

Tudo levava a crer que com a criação e instalação da Alfândega todos os problemas do comércio com as praças da Capital e do Litoral ficariam definitivamente encerrados. Mas isso não ocorreu.

O comércio de Porto Alegre, principalmente, continuou trabalhando com a finalidade de reverter a situação. Por volta de 1904, segundo registra Sérgio da Costa Franco (Porto Alegre e seu Comércio, Porto Alegre, 1983), "alimentando a suposição de que a Alfândega de Livramento favorecesse o comércio ilegítimo, diretores da Associação Comercial de Porto Alegre cogitaram de pedir, através do Deputado Cassiano do Nascimento e do Senador Pinheiro Machado, líderes das bancadas gaúchas na Câmara e no Senado, que fosse fechada a repartição alfandegaria daquela cidade fronteiriça"

Como a praça da Capital permanecesse na sua obstinação de pedir providências reprssivas e um maior rigor fiscal, contra os seus colegas da fronteira, o comércio de Sant'Ana do Livramento, em maio de 1908, rompeu com o comércio de Porto Alegre.

 

"Cavalhada", realizadas na atual praça da Bandeira, no dia 1º de outubro de 1900 como parte dos festejos comemorativos a instalação da Alfândega, organizados pela Praça do Comércio. (Museu Folha Popular)

 

"Dança da Jardineira", também integrou a programação organizada para comemorar a instalação da Alfândega, em Sant'Ana do Livramento. (Museu Folha Popular)

 

Festa da instalação da Alfândega, dia 1º de outubro de 1900. A Alfândega estava localizada no prédio hoje ocupado pela firma Sayon, na esquina da Andradas e Tamandaré.

J.Reinecken Webmaster