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| O Clube Comercial e o Centro Comercial |
| Fundado o "Centro
Comercial" a 8 de março de 1891, tratou logo de
encaminhar as autoridades governamentais, um longo
memorial que foi entregue ao Delegado do Ministério da
Fazenda no Rio Grande do Sul. Como os anteriores, o
documento não consequiu sensibilisar os responsáveis
pelas medidas que prendiam, num verdadeiro círculo de
ferro, o comércio da fronteira. Tal fato criou uma
situação de verdadeiro desânimo entre os componentes
do "Centro". Muitas firmas diante da situação
de verdadeiro constrangimento a que foram submetidas,
impedidas que estavam de exercer livremente suas
atividades, optaram por deixar a cidade. Algumas
transferiram-se para a vizinha cidade de Rivera, no
Uruguai, enquanto outras udaram-se para Pelotas, Rio
Grande e mesmo Porto Alegre, ou simplesmente fecharam
suas portas. Essa verdadeira letargia que de todos se apossou, foi agravada consideravelmente pela eclosão da guerra civil no início de 1893 e que dilacerou o Rio Grande do Sul por cerca de três anos. Inclusive, nesse período, o comércio santanense foi submetido a "contribuições de guerra" pelas forças belingerantes. Feita a paz, a 23 de agosto de 1895, o Rio Grande do Sul iniciou um período de verdadeira reconstrução. A 8 de janeiro de 1896, nas dependências do Hotel do Comércio um grupo de comerciantes, reuniu-se em sessão preparatória, com a finalidade de fundar um "Clube Comercial". Dessa reunião participaram Benigno Lardies, Guilherme Dias, Alfredo Bittencourt, Agustin Pastor, Antônio Virginio Martins, Henrique Doninelli e João Sanz. Pouco depois, a 15 do mesmo mês, teve lugar uma nova reunião quando foram aprovados os Estatutos e eleita a seguinte diretoria: Presidente, Guilherme Dias; Vice-Presidente, Vivaldino Maciel; Tesoureiro, Benigno Lardiez; 1º Secretário, Alfredo Bittencourt; 2º Secretário, Tomas Mena; Comissão de Contas, Henrique Doninelli, Agustin Pastor e Antonio Rodrigues de Oliveira; Diretores de mês, Miguel Cáceres, Joaquim Antônio da Cunha, Carlos Zimmermann, João Pedro d'Avila, Sinforiano Torres, Dionísio Garcia, José Garagorry, Anaurelino de Souza, José Peña, Federico Aragones, Agustin Jardim e Francisco Iriondo. Finalmente, a 19 de setembro do mesmo ano foi inaugurado o Clube, em solenidade que contou com a presença de autoridades e associados. Ao concluir sua gestão como presidente dessa entidade, em 1898, Pedro Cruxen apresentou interessante relatório, pelo qual se verifica claramente que nessa época quem realmente advogava os interesses do comércio não era o "Centro Comercial" fundado em 1891, e sim o "Clube Comercial". O texto desse documento é o seguinte: "A maior ofensa que é possível fazer-se a uma praça de comércio é pô-la em verdadeiro estado de sitio, proibindo-a de exportar aquelas mercadorias que importou, pagando os direitos legais. Era, disse pelo Jornal do Comércio, do Rio, o Sr. Albino Costa, "uma espécie de cárcere onde fossem arremessados de cambulhada culpados e inocentes". Felizmente caiu essa afrontosa medida que nos impedia de vender nossos generos a quem quizesse comprá-los e transformava essa cidade numa verdadeira penitenciária dos ladrões do fisco. Em 3 de novembro expedimos telegramas aos Srs. Albino Costa e Dr. Alcides Lima, pedindo a esses reconhecidos amigos de nossa terra protestarem junto ao governo, e, ao primeiro deles enviamos entre outros, o seguinte, em que afirmamos parecer-nos que esse ato não partia do Ministerio da Fazenda e sim de seu Delegado Dr. Vóssio Brígido: "Dr. Vóssio Brígido declarou que estabelecimento zona era determinado ministro Fazenda. Sendo medida incontitucional parece não partir ministro. Alguns comerciantes estrangeiros daqui vão protestar danos tal medida lhes ocasiona". Por intermédio daqueles dois cavalheiros, foram presentes nossos telegramas ao ministro Dr. Bernardino Campos, que imediatamente telegrafou ao Inspetor de Rendas Federais neste Estado, Sr. Dr. Vóssio Brígido, ordenando a suspensão das zonas por inconstitucionais. Não temos poupado esforços nem sacrifícios de todo o gênero, para obter o desejado alfandegamento de nossa Mesa de Rendas. Telegramas consecutivos temos expedido as mais altasinfluências políticas e particulares, assim como a vários representantes deste Estado no Congresso Nacional, concitando-os a advogarem a nossa causa. Conseguimos que os deputados Drs. Rivadávia Corrêa e Aureliano Barbosa apresentassem na Câmara dos Deputados uma emenda propondo a inclusão de 50:000$000 para o restabelecimento da Alfândega nesta cidade. Infelizmente essa emenda, que tem o nº 20, caiu mas os esforços dos ilustres rio grandenses ficaram em pé. Estando a Mesa de Rendas Gerais desta cidade fazendo despachos de tecidos e de alguns generos especiais, causou este fato profundo despeito no comércio das três cidades do litoral e a sua imprensa mais conceituada atirou sobre esta praça injúrias de toda a espécie concitando com veemência o governo a tomar medidas de violenta repressão, como se nós não estivessemos pagando os direitos devidos ao fisco, e este clamor infamente achou eco no governo, que nos mandou delegados especiais verificar a legalidade das introduções,vindo a esta praça os comissários Dr. Luis Brígido e João Clímaco de Mello. Isso foi benéfico, porque esses comissionados verificaram que nós não somos uns contrabandistas pois estávamos pagando os direitos pelas mercadorias que introduzíamos. Foi no início desta crise violenta que o Sr. Albino Costa, pela redação do Jornal do Comércio de 15 de outubro do ano passado, espontaneamente apareceu defendendo o nosso comércio e rebatendo as acusações que nos eram atiradas. E tal foi o efeito produzido pela propaganda, pelo primeiro jornal da América do sul, que logo no Senado, um senador por Alagoas, o Dr. Leite Oiticica, que nada conhece desta fronteira, propôs uma emenda no orçamento abrindo crédito para o estabelecimento definitivo da Alfândega aqui e abolição da Delegacia Fiscal Estadual e competente corpo aduaneiro. A primeira parte da emenda, sobre a Alfândega, foi rejeitada e vingou a segunda, que, posteriormente, caiu na Câmara. A questão está lançada. A luta vai renhida, mas nós estamos em pior situação de dantes. Além da tabela gozávamos a regalia de introduzir diversos artigos de ferragens, aniagens, sal e generos de armazém, concessões dos delegados fiscais que exerceram funções em anos anteriores. Em meados de outrubro de 1898, quando mais violenta se tornou a linguagem do litoral contra nós, nos desalentava o silêncio obstinado dos ilustres representantes deste Estado na Câmara e Senado, fomos agradavelmente surpreendidos pelo aparecimento de notáveis e enérgicos artigos nas colunas do Jornal do Comércio da Capital Federal. Eram da lavra do Sr. Albino Costa, que espontaneamente vinha em nosso auxílio rebatendo as ofensas da imprensa das praças do litoral rio grandense e pugnar em favor da causa que tantos sacrifícios nos está causando: a Alfândega. Constituímo-lo nosso representante legal, e parece que seus artigos predispuseram a nosso favor as opiniões de modo que se tornou mais fácil obter a cessação das zonas, redução do imposto de gado e introdução de mercadorias depois de encerrados os despachos aqui". Como fica evidenciado o "Clube Comercial", em vez do "Centro Comercial" ou "Praça do Comércio", é que realmente falava pelo comércio santanense nessa oportunidade... afinal os integrantes do Clube e do Centro Comercial eram os mesmos... |
J.Reinecken Webmaster