ACIL - Associação Comercial e Industrial de Livramento
   
  100 anos de comércio
   
  Um resumo histórico da ACIL, compilado do livro acima denominado, de autoria do historiador santanense Ivo Caggiani.

  O Comércio e o trem
   
  Sem dúvida nenhuma, o Uruguai teve decisiva influência na introdução do sistema ferroviário gaúcho.

Montevidéu, porto de grande importância na foz do Rio da Prata, ligava-se com a fronteira do Brasil através de ferrovias, desde a última década do século passado. O comércio gaúcho da fronteira, principalmente do Livramento, pela facilidade de transporte, pelo baixo custo dos fretes e pela proximidade com a capital oriental, sempre se utilizara daquele porto para receber mercadorias que vinham da Europa, em trânsito pelo Uruguai, e que eram legalmente introduzidas no Brasil.

A falta de ligação ferroviária do interior e principalmente da fronteira com o porto de Rio Grande foi sempre a responsável por todos os problemas e mesmo pelas lutas surgidas entre as inúmeras praças comerciais do Estado.

Todo o conjunto de fatos, inclusive estratégicos, levaram o governo a tomar a iniciativa de multiplicar as ligações ferroviárias no Rio Grande do Sul. Aliás, já na década de 1870, o General Manoel Luis Osório, no Senado do Império, reclamava a construção de uma estrada de ferro ã fronteira, encarando-a sob o ponto de vista estratégico.

Mesmo assim, Sant'Ana, sempre esquecida e abandonada, teve que lutar com denodo pela sua ligação ferroviária com o centro do estado.

Em 1873 o governo do Império baixou decreto tratando da construção da ferrovia Porto Alegre-Uruguaiana, visando assim atingir a fronteira. Os trabalhos tiveram início em quatro secções: Porto Alegre-Cachoeira; Cachoeira-Santa Maria; Santa Maria-Alegrete e Alegrete-Uruguaiana.

Entretanto, a 17 de outubro de 1895, foi publicado no Diário do Congresso um projeto autorizando o poder Executivo a estudar a conveniência de substituir os dois ramais da estrada de ferro de Porto Alegre a Uruguaiana e de Cacequi a Sant'Ana do Livramento, por um único ramal que ligasse Porto Alegre a São Gabriel ou outro ponto mais conveniente.

Entendendo que mandar estudar outra variante era resolução antipatriótica e que teria como conseqüência a procrastinação da estradaaludida, que não só servia importante zona agrícola e industrial como obedecia a estratégia como nenhuma outra, movimentaram Sant'Ana do Livramento e especialmente a Praça do Comércio. Aliás, os comerciantes, de longa data, haviam iniciado uma batalha permanente no sentido de que os trilhos da estrada deferro atingissem a cidade, para colocá-la em contato direto não só com as zonas de produção do interior rio grandense, mas, também, com o resto do país.

Uma comissão composta de expressivas figuras da comunidade santanense, da qual faziam parte diversos comerciantes em representação da Praça do Comércio, convocou a população para um "meeting" na Intendência Municipal. A cidade não foi surda, nem esquiva ou indiferente a esse chamamento, comparecendo ao ato centenas e centenas de pessoas.

O Vigário Augusto Martins da Cruz Jobim, presidente do Conselho Municipal, aclamado presidente da reunião, convidou ao jornalista Arthur Lara Ulrich a fazer uma exposição da situação. Conhecido o magno problema pelos presentes, foi solicitada a sua autorização para que, em nome de Sant'Ana, a comissão pudesse dirigir-se ao presidente da República, as duas Casas do Congresso Nacional, a Assembléia dos Representantes do Estado e a imprensafluminense pedindo-lhes em nome do patriotismo e em pról da grandeza, prosperidade e futuro do Brasil e do Rio Grande, que não fosse sancionada a substituição de ramais e sim decretada verba para iniciar-seem 1896, a construção da estrada de ferro Cacequi-Livramento, cuja linha já estava toda locada.

Ao presidente da República foi enviado o seguinte telegrama:

"População santanense, sem distinção particos, classes, reunida Intendência Municipal, Praça General Osório, em meeting, resolveu comissão infra-assinada, dirigir-se-vos solicitando vosso alto patriotismo, porvir, interesse pátria, influirdes seja votada verba, a fim começar ano vindouro construção via férrea Cacequi-Livramento, agindo não passar Congresso transposição verba, consta-nos outra estrada, estudando-se novo traçado. Locação estrada ferro Cacequi-Livramento toda pronta começar 1896 construção, resolução antipatriótica fere interesses estratégicos, comerciais, procrastina construção umaestrada da qual só advirão imensos resultados tesouro nacional, bem como público geral. Apelamos grandeza futuro Pátria vosso jamais contestado zelo, empenho, progresso União. (as) Vigário Augusto Martins da Cruz Jobim; Barão de Itaquatiá, fazendeiro; Ataliba Gomes, Coronel; João Francisco Pereira de Souza, Tenente Coronel; Guilherme Dias, comerciante; José Garagorry, comerciante; Pedro Ramos, comerciante; Naurelino de Souza, fazendeiro;Miguel Jeronymo Cáceres, empregado público; Tristão Vianna, advogado; Mesofante Gomes, Intendente Interino; José Costaguta, comerciante; Arthur Lara Ulrich, jornalista e Deputado Estadual".

Muitos outros telegramas foram enviados aos Senadores Pinheiro Machado e Ramiro Barcelos, Deputado Victorino Monteiro, presidente do Estado, dr. Julio de Castilhos e jornais "O País", "Gazeta de Notícias" e "Jornal do Comércio", todos assinados pela mesma Comissão, cuja maior representação era de comerciantes.

Finalmente venceu o bom senso e o ramal do Cacequi a Livramento foi iniciado. Mas Sant'Ana do Livramento só foi ligada pela via férrea no dia 30 de outrubro de 1910. Para isso, sem dúvida, muito contribuiu a ação do comércio santanense e da sua Praça do Comércio.

A Inauguração do tráfego entre as cidades de Sant'Ana do Livramento e Rivera teve lugar no mês de maio de 1912. A República Oriental do Uruguai foi, portanto, a primeira nação da América a ter ligação direta com o Brasil por meio da via férrea, conquista essa exclusivamente da Praça do Comércio.

   

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